Missão

A CB Projetos Sociais valoriza e reconhece o potencial pedagógico que a cultura tem no âmbito do fortalecimento da comunidade, do individuo e na construção dos múltiplos saberes, através de um trabalho intensivo de formação, articulação e sensibilização dos envolvidos. Visamos resgatar a cultura das comunidades locais, tendo como base as artes cênicas, a musica, a literatura e outras ferramentas de capacitação social, mobilizando todo o âmbito da comunidade, como suscitando neles o veio da sustentabilidade. Através do fortalecimento de valores, crenças e habilidades, os talentos naturais ou adquiridos, individual e coletivamente são revelados, e os participantes tornam-se gestores de si e da sua própria cultura, reverberando em qualidade de vida e responsabilidade social.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

O sucesso de S. Benedito



Após 2 meses de trabalhos entre oficinas, e montagem, estreiamos finalmente e dentro de um prazo record de 60 dias, o Auto de São Benedito. A minha impressão ao colocar o espetáculo no palco, foi a mesma de quando entro no sambódromo para apresentar a comissão de frente na avenida:muita expectativa e emoção! O auto se divide em blocos, o que me fez lembrar as alas das escolas, tivemos uma comissão de frente que foram os cantores do coral de Helvécia abrindo a cena, a presença marcante das velhas senhoras com suas saias rodadas e turbantes lideradas por D. Faustina ( espetacular) eram as tradicionais bahianas da Mangueira, até destaque tivemos na chegada do belíssimo anjo negro vestindo um capacete de guerreiro prateado, levando as costas um par de asas brancas enormes que se movimentavam placidamente ao seu caminhar, e um saiote de moedas prateadas feitas de tampinhas de refrigerantes que tilintavam sobre seu corpo escultural. 
O praticavel do centro da arena, onde parte das cenas aconteciam, era o carro alegorico que balançava com as ondas do navio negreiro de Catro Alves. Os meninos da banda Kebr'aí com seu ritmo da pesada liderados pelo mestre de bateria Bruno, provocavam o frisson da bateria do Império Serrano. A aparição final de S. Benedito na glória coberto de brilho, os estandartes dançando em meio a todos, e por fim a grande folia que envolveu artistas e platéia, era a comemoração da vitoria na praça da Apoteose! Meus olhos embargados de lágrimas se misturavam aos corações palpitantes e emocionados do povo aplaudindo entusiasticamente nas arquibancadas: Já ganhou, já ganhou!! 
Vitoria do juri popular, vitoria da negritude explendorosa de Helvécia, vitória da perseverança, da fé, da harmonia e do amor! Vitoria da Aracruz, do BNDS que juntos apostaram nos talentos daquela gente. Parabéns a todos, parabéns Patrice RIiéra pelo maginifico desempenho enquanto figurinista, parabéns Paulo Coutinho, Geovane Rosati, Robinho e todos mais que de alguma forma contribuiram para que a escola entrasse na avenida, e saisse vitoriosa! Esse é o carnaval da sustentabilidade social, do empreendedorismo humanitário, do olhar sobre o próximo, da vida!

terça-feira, 9 de junho de 2009

Auto De São Benedito - 03 a 09 de junho

Estamos entrando na contagem regressiva para a estreia do Auto! tenho pensadocom alegria, e porque não dizer orgulho, no tempo em que esse espetáculo está sendo montado. Hoje enquanto assistia ao ensaio, já do alto das arquibancadas que estão sendo construidas dentro do galpão, sob a gentil e eficiente administração de Geovani, que Deus o guarde,me surpreendi emocionado por alguns instantes.Dia 13 de junho completaremos dois meses de oficinas e ensaios, e como profissional da arte, posso assegurar que o que está acontecendo aqui em Helvécia é um verdadeiro milagre, e uma satisfação muito grande , pois aqueles mesmos jovens que chegaram a mim timidos e desconfiados, estão desempenhando os seus papéis com garra e desenvoltura. tarefa difícil, difícil mesmo para quem nunca tinha representado e dia 19 estará sob a luz dos refletores declamando O Navio Negreiro de Castro Alves, dançando, cantando tocando e o melhor, realizando s eu sonho. 
Enquanto isso, na velha estaçãozinha, pela qual passou D. Pedro II, Minha assistente e realizadora de figurinos, a artista plástica Patrice Rivéra da os ultimos retoques no belíssimo figurino juntamente com as incríveis mulheres de Helvécia capacitadas por ela. Digo aqui que são grandes guerreiras essas mulheres, admiráveis na sua luta diária, consciencia, perseverança e beleza. Helvécia são elas, Dandaras negras,verdadeiras Deusas do Ébano que circulam pelas ruas de terra da comunidade.
Como diz a canção de MIlton Nascimento que abre o espetáculo: "Estamos chegando de todos os quilombos, de todos os cantos, de todas as dores, de todos os amores. Viemos cantar, viemos dançar, viemos gritar!"

INICIANDO OS TRABALHOS - HELVÉCIA

A Arte é uma necessidade,um apoio,um amparo. Precisamos de arte não somente como espetáculo, mas como ritual de embelezamento da vida, como estimulo social e cultural. O objetivo específico da tarefa da arte é o desenvolvimento humano e cultural e a cultura vai ser o resultado da expressão artística de uma comunidade. Uma das capacidades que diferenciam o ser humano dos outros animais é a capacidade de produção de cultura, e cultura é um conjunto de valores dos indivíduos de uma determinada sociedade que produzem arte como atividade e manifestação social. A arte não é só deleite, é o registro da nossa complexidade.

Em setembro de 2008, fui para Helvécia, distrito de Nova Viçosa, uma comunidade quilombola do sul da Bahia, levado por Paulo Coutinho, gerente de sustentabilidade da Aracruz Celulose. Fomos lá para fazer um primeiro contato com a comunidade com o intuito de avaliarmos a possibilidade de realizar ali um trabalho de desenvolvimento artístico e cultural envolvendo a população local.

Ao chegar lá, me deparei com a festa de Nossa Senhora da Piedade...

Depois da missa solene na igreja local, vieram os capoeiristas jogando a valer e o show de lambada na praça central repleta de barraquinhas festivas. No pouco tempo que lá fiquei, pude sentir o potencial artístico daquele povo escondido entre as plantações de eucalipto.

Entre comidas e bebidas, ficamos lembrando da história daquele povo. No período de escravidão no Brasil, os negros que conseguiam escapar das fazendas se refugiavam com outros em igual situação em locais bem escondidos no meio das matas. Nestes locais formavam suas comunidades que eram conhecidas como quilombos. Lá, eles viviam de acordo com sua cultura de origem africana, plantando e produzindo em conjunto. Os quilombos representaram uma das formas de resistência e combate à escravidão. Rejeitando a cruel forma de vida, os negros buscavam a liberdade e uma vida com dignidade, resgatando a cultura e a forma de viver que deixaram na África e contribuindo para a formação da cultura afro-brasileira.

Seis meses depois, em 17 de março, retornei a Helvécia.

Dona Tidinha, Dona Faustina, Sr Dudu, Roseli, Dona Elzira, Sr Valmir e outras tantas personalidades daquele vilarejo, me encantaram com seus sorrisos, franqueza e consciência do que são e representam enquanto gestores de cultura local. Os jovens, sedentos de aprender o que ainda não sabem para melhor expressar seus talentos, me acolheram com expectativa e curiosidade.

Compreendi que Helvécia seria para mim, não apenas mais um trabalho profissional, porem a extensão de um ideal humanitário e espiritual que vem sendo a fonte inspiradora da minha arte e consequentemente da minha vida.

São Francisco de Assis me escolheu para contar sua história para todo o Brasil e fazer dela uma obra social que não se limitou ao palco, se estendendendo as populações carentes.



Santo Antônio, enciumado, fez o mesmo!


São Benedito, o negrinho franciscano, nos escolheu a todos nós envolvidos nesse projeto, para contarmos a sua história em Helvécia.

E que a arte seja a voz do entendimento, da comunhão e da felicidade daquele povo.

Paz e bem!

Ciro Barcelos



Aracruz realiza projeto cultural em Helvécia

Por Rogéria Gomes
Em parceria com a comunidade local, a Aracruz está desenvolvendo em Helvécia, no sul da Bahia, um projeto que pretende estimular o desenvolvimento social e a cidadania por meio da cultura e da arte.
Oficinas de teatro, dança, música e atividades afins vão preparar a população para participar de espetáculos de teatro. O primeiro trabalho será o Auto de São Benedito, que será encenado em maio.
Helvécia, que fica em Nova Viçosa, sul da Bahia, vai ter a oportunidade de expressar sua cultura e sua arte por meio de um projeto que a Aracruz está desenvolvendo na região em parceria com a comunidade. A partir da realização de oficias de teatro, dança, música, criação e confecção de figurinos com participação de costureiras, artesãs e bordadeiras locais, a
comunidade poderá se preparar para participar do projeto cultural e artístico.

Para conduzir o trabalho, a Aracruz convidou o diretor, ator e coreógrafo Ciro Barcelos, cujo trabalho é reconhecido inclusive fora do Brasil. Ele já esteve em Helvécia participando de reuniões com a comunidade para conhecer
a realidade da região e fez pesquisas na área musical e folclórica. "A idéia inicial é criar um ambiente educacional centrado nas artes cênicas e que possa formar profissionais em várias áreas afins, tais como coreografia, cenografia, iluminação e sonorização, entre outras", explicou o gerente de Sustentabilidade da Aracruz, Paulo Coutinho.

Segundo ele, os recursos que a Aracruz destinará ao projeto serão reembolsados pelo BNDES, pois fazem parte de um conjunto de projetos sociais apoiados pela instituição como parte de uma operação de empréstimo à empresa.

As oficinas de capacitação serão iniciadas em abril e o primeiro trabalho artístico e cultural desenvolvido será o projeto Auto de São Benedito, a ser apresentado em maio, na Iigreja Católica de Helvécia, envolvendo a população local. Posteriormente, a meta é levar o espetáculo também a
outras comunidades da região.

A história será baseada em um livro de poemas de Cordel que narra a importância e os milagres do santo negro. Paulo Coutinho destacou que o projeto pretende envolver principalmente os jovens da comunidade, contribuindo para capacitá-los a desenvolver outras atividades por conta
própria. "O projeto também vai contribuir para elevar a auto-estima das pessoas e motivá-las para a cidadania", observou ele.

Ciro Barcelos esteve em Helvécia na festa de Nossa Senhora da Piedade e ficou impressionado com o que viu. “A veia artística dos moradores é enorme, o grupo de capoeira é maravilhoso, o toque dos atabaques e o próprio canto na missa têm grande potencial e isso me atraiu. A arte é transformadora”, resumiu ele. Na semana passada, Ciro Barcelos também esteve na Aracruz, em Barra do Riacho, em reunião com a equipe da Sustent para acertar detalhes do projeto.

CIRO BARCELOS – Diretor, ator e coreógrafo renomado, Ciro já fez sucesso na França, Espanha e Itália, passou pela TV Globo e ganhou diversos prêmios.
Hoje é conhecido por sua multiplicidade artística e rigor técnico. Inspira-se em suas experiências de vida e de busca espiritual criando e produzindo espetáculos como: “Jesus, o mistério do amor”, “Circumano” e, seu maior sucesso, “Francisco de Assis”, espetáculo que permaneceu dez anos
em cartaz, com apresentações no Brasil e Itália, e bateu o recorde nacional de 1 milhão de espectadores tornando-se um fenômeno de bilheteria.

HELVÉCIA – A comunidade de Helvécia fica no extremo sul da Bahia, no município de Nova Viçosa, e tem aproximadamente 4 mil moradores. Cerca de 80% da população é negra e carrega uma rica herança cultural. Durante o ano, são realizados dois eventos importantes: a festa de São Sebastião (visitada por mais de 10 mil pessoas) e a celebração de Nossa Senhora da
Piedade. Parte da população vive da lavoura, outros trabalham na prefeitura ou em empresas que prestam serviços para a Aracruz Celulose e outras companhias da região.

A Aracruz já desenvolve algumas atividades a fim de contribuir para a melhoria da qualidade de vida na região. Um exemplo é a biblioteca local, que funciona em instalações preparadas pela empresa e cujo acervo também foi doado pela companhia. Há ainda o curso de informática, que foi viabilizado a partir de equipamentos doados pela Aracruz.

QUEBRA AI

Num domingo ensolarado de Helvécia, enquanto fazia meu cooper diário no campo de futebol, escutei ao longe uma sonoridade que me chamou atenção. Desviando-me do campo, continuei correndo pelas ruas de terra da pequena cidade em busca daquele som rítmico que mexia comigo, até que me deparei com uma das velhas casas que guardam ainda hoje a cultura arquitetônica da época dos escravos, situada próxima a pequena estação de trem por onde um dia passou D. Pedro II. Nos fundos da bela casa, alguns garotos reunidos em torno de uma bateria, tambores e um cavaquinho, levavam um som no estilo swinguera que me fez parar o cooper para ouvi-los. A banda “ Quebra aí” surgiu do encontro entre três meninos que ainda crianças se juntavam para tocar em instrumentos improvisados em latas de óleo, tambores de plástico, panelas e outras quinquilharias que encontravam pelo caminho. Reunidos no quintal de suas casas para treinar, chamaram a atenção de Valdeir, que já tendo trabalhado com outras bandas, e sabendo confeccionar instrumentos com material reciclado, resolveu ajudar os meninos. Assim surgiu a primeira bateria de Bruno, toda feita com tambores de óleo, tubos de PVC e ferro e placas de sinalização. Com os novos instrumentos, foram chamados para se apresentar na escola, logo conseguiram fazer a abertura de uma banda profissional na maior festa da cidade, quando tocaram pela primeira vez com instrumentos verdadeiros emprestados pela banda. A cidade aplaudiu os seus garotos, os pais se convenceram que seus filhos tinham chance e com grande sacrifício compraram novos instrumentos para eles. Eu,empolgado com o som que escutei, convoquei-os para integrar o Auto de São Benedito assumindo a trilha sonora do espetáculo, e confiei ao Bruno ( 19 anos) a direção musical. Hoje fizemos o primeiro ensaio reunindo a banda, atores, dançarinos e coral, e grande foi a minha alegria em dirigir esse encontro de tantos talentos. Os garotos são bons mesmo!

Bem Vinda Patrice Rivéra

Viajou comigo para Helvécia a artista plástica e figurinista Patrice Rivéra, com quem trabalho na construção dos figurinos de meus espetáculos. Patrice assume a realização dos figurinos e adereços do Auto de São Benedito, os quais serão confeccionados com a ajuda de moças e costureiras da comunidade que por sua vez estarão cursando oficinas de elaboração de figurinos teatrais ministradas por Patrice. Bem vinda Patrice! Patrice Rivéra é estilista ,figurinista e artista plástica, trabalhou para varias novelas da TV Globo, cinema, teatro e desfiles de moda.